Quando o fenômeno fascista surgiu, originalmente na Itália, depois da Primeira Guerra Mundial, não era fácil definir sua natureza. Seu líder Benito Mussolini procedia das fileiras do socialismo e, mais precisamente, de sua ala maximalista. No começo, o fascismo se apresentou como um movimento revolucionário, inserido no contexto de turbulências sociais que afetaram a Europa nos anos que sucederam o conflito bélico.
Entre os que souberam detectar prematuramente a autêntica posição social dos “fasci di combattimento” se destaca, com grande lucidez, o jornalista e teórico marxista peruano José Carlos Mariátegui. A partir de sua posição privilegiada de observador, em sua estadia na Itália nos anos 1920-1922, elabora sua impressionante “Biologia do fascismo”, publicada mais tarde em La escena contemporánea.
Ao lado das inclinações de restauração do tipo tradicional do Estado autoritário, também enfatiza agudamente os aspectos ideológicos do fascismo. Assinala, neste sentido, o papel antecipador do poeta Gabriele D’Annunzio dentro das correntes irracionalistas do pós-guerra. Ao mesmo tempo destaca sua marginalização no momento em que o fascismo revela seu conteúdo violentamente classista. No caminho entre o céu da retórica poética e a terra firme, o movimento conserva apenas os elementos exteriores do d’annunzianismo e se propõe como núcleo de agregação de todas as forças reacionárias.
Por outro lado, Mariátegui intui também os limites das forças que se opõem ao fascismo, antes e depois do triunfo mussoliniano. Na fase anterior, destaca as divisões profundas das forças democráticas e do próprio Partido Socialista, cindido entre uma alma reformista e outra revolucionária. Daí o surgimento do Partido Comunista, ao que Mariátegui assiste pessoalmente em Livorno, saudando-o como uma possível alternativa e chegando até mesmo a lançar a previsão de um enfrentamento final entre o fascismo e a nova força revolucionária. Depois da experiência do regime autoritário e da incapacidade de organizar uma autêntica oposição, conclui que não resta espaço para as forças demoliberais tradicionais.
O fenômeno fascista é enfocado sempre dentro de seu contexto europeu. Os traços peculiares de sua manifestação italiana, portanto, não o impedem de perceber uma tendência mais geral à agregação das forças reacionárias que abarca, de formas diferentes, em vários países do velho continente.
Oitenta anos depois, as análises do marxista peruano conservam sua vigência. Não só por seus acertos na definição da substância profunda de um fenômeno contemporâneo, mas também porque oferece um modelo, ainda atual, de interpretação das classes sociais, livre de todo dogmatismo.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
As origens do fascismo
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